Amigos do Fingidor

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Poesia em tradução

Soneto LXXIII
William Shakespeare (1564-1616)




Em mim tu podes ver a quadra fria
Em que as folhas, já poucas ou nenhumas,
Pendem do ramo trêmulo onde havia
Outrora ninhos e gorjeio e plumas.
Em mim contemplas essa luz que apaga
Quando no poente o dia se faz mudo
E pouco a pouco a negra noite o traga,
Gêmea da morte, que cancela tudo.
Em mim tu sentes resplender o fogo
Que ardia sob as cinzas do passado
E num leito de morte expira logo
Do quanto que o nutriu ora esgotado.
      Sabê-lo faz o teu amor mais forte
      Por quem em breve há de levar a morte.


(Trad. Ivo Barroso)